segunda-feira, junho 04, 2007

China, Macau - 26 a 31 de Maio 2007

Um simpático convite do Turismo de Macau levou-me até ao último dos territórios ultramarinos de administração portuguesa, que, até 19 de Dezembro de 1999, mantinha vivas as palavras do Poeta: «o Império onde o sol nunca se põe».

Pese embora todo o esforço e bom trabalho desenvolvido nos últimos anos de administração portuguesa, há que reconhecer a pujança desta nova Era, num território onde a China faz questão de mostrar ao mundo todo o seu potencial e poderio económico. É impossível ficar indiferente à obra chinesa em tão poucos anos...

A China é de resto o prefixo e o sufixo de Macau. Não há como camuflar esta ideia, por muito que o sentido patriótico português nos leve evita-la.

Na verdade, não ficaria espantado se ouvisse um qualquer estrangeiro a lamentar-se pelo facto de Macau não ter passado mais cedo para as mãos chinesas, tal a obra feita desde 2000, comparativamente com o investimento português no território.

Macau é a menina dos olhos da China! Não querendo antecipar-me à História, arrisco mesmo em afirmar que até Hong Kong ficará periférica a Macau...

É evidente a vontade chinesa em transferir para Shangai o maior pólo financeiro do país, «sugando» a vitalidade económica de Hong Kong em prole de obra sua, a cidade do futuro, a bela Shangai.

Por outro lado, Macau emerge para o turismo a uma velocidade vertiginosa, algo que Hong Kong dificilmente poderá acompanhar, pois não tem o património histórico da sua cidade vizinha, nem seque por onde crescer do ponto de vista territorial e também não tem tradição nem licença de jogo (que gera milhões para investimento local), nem o glamour de Macau... tão pouco sobra vontade política chinesa...

Por todas estas razões e mais algumas... Macau entra definitivamente no mapa mundi do investimento turístico, financeiro e político... à escala mundial.

Macau não é mais aquela aldeia de portugueses... É Las Vegas dos tempos modernos, como atestam os novos mega hotéis-casinos, à imagem da meca americana do jogo; É Amesterdão do sol nascente, tal a quantidade de terra já ganha ao mar; É Lisboa das colinas e ruelas que desembocam em monumentos; É Sydney do futuro...

Talvez pela assunção de uma frustração já esperada, em particular, depois da «debandada», a ideia de encontrar quem falasse português não fazia parte das minhas expectativas.

A verdade é que fiquei agradavelmente surpreendido por ser rara a rua onde não ouvia a língua de camões, mesmo que de tempos a tempos, entre milhares de cantonenses...

Aliás, o nome das ruas, a sinalética e todas as comunicações oficiais em português deixam bem claro quem por ali passou e a vontade de não apagar a História dos que lá ficaram.

É clara a vontade do governo chinês em demarcar Macau da China continental e daí que alimente a cultura portuguesa, nas suas mais diversas manifestações, integrando-a com a cultura chinesa de forma discreta (ainda que inquestionável). De outra forma, o território seria mais do mesmo e não algo exótico e aliciante para turistas (internos e externos), tal como a fronteira com Zhuhai faz questão de evidenciar.

Hoje, Macau multiplicou-se, em habitantes, em estruturas... em território. Os numerosos terrenos conquistados ao mar, por via do assoreamento estenderam Macau até aos seus limites actuais, bem mais alargados do que alguma vez foram. Adivinha-se que em poucos anos, Macau, Taipa e Coloane sejam uma só, em vez de três desgarradas ilhas que o mundo criou.

A tradicional imagem de pontes que ligam ilhas e territórios, separados por vales, rios ou mares, em Macau é substituída por assoreamentos.

Na verdade, Cotai nasceu assim mesmo... Coloane e Taipa são hoje mesmo uma só ilha (Co + Tai). É aí que irá nascer (se é que falar em Tempo faz sentido em Macau... tal a velocidade vertiginosa do seu desenvolvimento) a nova Stip, a nova Las Vegas, numa megalómana polarização de casinos e hotéis fantásticos, que fazem a transição entre Taipa e Coloane.

Para quem não conhece Macau, recomendaria sempre que a visita da cidade se iniciasse a partir do seu museu, onde se compreende a história e a evolução do território, de forma etnográfica, bem pautada e didática. Aqui entende-se o perfil do macaense, a presença portuguesa, a geografia e arquitectura do território.


[04 de Junho de 2007: deixei esta crónica de viagem a meio... Passado um ano, um mês e alguns dias, volto para a completar. Já voltei a Macau e como antevia... a mutação é uma constante]

Do Museu para o jardim... assim daria continuidade à visita de Macau, caminhando a pé pela Rua Tomás Vieira, até ao Jardim de Camões, onde segundo a lenda, o poeta terá terminado alguns dos seus sonetos. É um local aprazível, que os macaenses fazem questão de o preservar e desfrutar...

Diariamente ali se cruzam velhos de jardim, desportistas, turistas e curiosos, aproveitando o espaço das mais diversas formas, ora para ler excertos d'Os Lusíadas, ora para dar uso aos aparelhos de desporto (que a «democracia chinesa» faz questão de proliferar pelas suas cidades, como incentivo ao desporto na 3ª idade), ora para realizar massagens aos pés em passadeiras de pedra ou simplesmente observar a cidade da colina e a fronteira para lá do Canal dos Patos.

O jardim, a praça que o antecede (que, de resto, também serve de entrada na Fundação Oriente) e as ruas que dali partem para a cidade a Sul, marcam uma rotura com o passado... imagine-se... na limpeza. Macau é eleita pelo 8º ano consecutivo a 2ª cidade mais limpa da Ásia, logo a seguir a Singapura.

É precisamente uma dessas ruas que nos conduz até às Ruínas de S. Paulo, cuja história rica e curiosa merece a compra de um guia mais detalhado.

A partir daí, a azáfama das compras prolonga-se pelas ruas, em jeito de ladeira, até à bela Praça do Leal Senado, em calçada portuguesa e muito bem preservada.

Aqui vale a pena subir as escadas do Leal Senado e entrar por momentos (senão mesmo para ler um qualquer documento histórico) e conhecer a sua biblioteca, que, nos picos do calor, sabe tão bem quanto a habitual frescura de uma igreja.

É também na praça que se encontra a Igreja de S. Domingos, inserida no conjunto urbanístico classificado pela UNESCO, num estilo barroco que nos é familiar, ainda que as suas origens sejam espanholas (culto a nossa Senhora do Rosário). Hoje, alberga um pequeno museu de arte sacra, instalado nos 3 andares do campanário. Vale a pena uma visita, mesmo que breve.

Os pontos de interesse turístico de Macau desmultiplicam-se em muitos mais monumentos, como o Templo da Deusa A-MA, a Igreja da Penha ou até o Farol da Guia. Mas as novas construções, inovadoras na forma e no estilo, prendem os nossos olhos. Os hotéis transformam-se em obras de arte, as pontes em paisagem pura e a Torre de Macau no «novo farol» de Macau.

Os casinos dominam a baixa ribeirinha da cidade e os parques lúdicos também (ex. Fisherman's Wharf - uma réplica arquitectónica da fachada das grande metrópoles mundiais, que alberga restaurantes de cozinha internacional).

E porque falamos de cozinha, vale a pena deixar alguns nomes: Espaço Lisboa, Litoral, Torre de Macau. Aqui poderá provar a melhor cozinha portuguesa.