domingo, dezembro 25, 2005

Escócia - 19 a 24 de Novembro 2005

Ainda a recuperar o ritmo, quebrado pela minha última viagem [ao Japão], subi uma vez mais os degraus do avião, agora rumo a Manchester...

Mas não era o Norte de Inglaterra o motivo desta nova viagem. O meu destino era a Escócia, onde tinha estado na passada Páscoa, com um grupo de farmacêuticos, e prometido a mim mesmo ali voltar em férias.

Percorridos pouco mais de 300 km de carro, já à noite, e depois de 3 horas na escuridão de uma estrada, apenas iluminada pelos faróis dos carros que por ali passavam, avistei Edimburgo, dominada pelo castelo, à luz de gigantes holofotes dirigidos às muralhas e estrategicamente colocados no sopé das suas encostas. Mais a Oeste o centro da cidade é limitado pelo observatório de Calton Hill, encimado por uma recriação de um templo grego, donde se avista Arthur's Seat (uma colina que, por terminar abruptamente numa ravina, leva-nos a imaginar um assento). Que belo cenário de boas-vindas...



Como da primeira vez que aqui estive, tive a sensação de entrar numa máquina do tempo e sair por uma qualquer arcada de pedra secular, num dos inúmeros closes da Royal Mile, deparando-me com um cenário Medieval... o centro histórico da cidade.

O castelo torna a orientação fácil, com a Royal Mile (sequência de ruas que nos levam de forma rectilínea até Castle Hill) a dividir claramente a cidade entre norte e sul, a cidade nova e a cidade velha, respectivamente.

As diferenças são notórias, é um facto. Mas a verdade é que a chamada cidade nova, georgiana e victoriana, apresenta um cenário em perfeito equilíbrio com a cidade velha medieval.

Não existem arranha-céus, nem edifícios descabidos ou desmesurados, as casas são revestidas a pedra, tal como a sul (embora em estilos diferentes), não há edifícios por pintar, mal rebocados a estuque ou a necessitar de uma rápida intervenção nas fachadas... simplesmente porque tudo começa e acaba em pedra.

Os closes, que marcam a zona histórica de Edimburgo, não são mais do que ruelas «calçadas» a paralelepípedos intercadentes, extremamente estreitas (onde dificilmente 2 pessoas caminham lado a lado), maioritariamente íngremes e com escadarias, que rendilham a cidade, nas encostas do castelo. Hoje são uma bela forma de atravessar rapidamente a cidade... Outrora uma excelente solução de resistência aos ataques e cercos inimigos.

Mas Edimburgo conta bem mais do que uma História... conta várias outras histórias, lendas e mitos, que nos prendem à cidade, sem nos darmos conta.

Num curto trecho, entre a Royal Mile e Grassmarket, sucedem-se os pontos de interesse... As casas pintadas de Victoria Street, que serviam para os escoceses identificarem as suas próprias portas, depois das noites mais boémias; A conversão de belas igrejas em restaurantes, bares e discotecas; O Last Drop Pub, onde os criminosos bebiam o último trago de whiskey, antes de serem enforcados no pelourinho de Grassmarket; O Bobby's Pub, que homenageia um fiel cachorro que ao longo de 14 anos permaneceu junto à campa, onde jazia o seu dono; Os becos e ruelas que imortalizam lendas de raptos e assassínios, hoje tornadas atracções e etnograficamente recriadas à noite, nas ruas da cidade (...).



Parti para Inverness, nas Terras Altas, repetindo o caminho que fizera na Páscoa, para no dia seguinte visitar o mítico Loch Ness.

Uma paragem em Stirling, cidade onde viveu o famoso William Walace, para visitar o castelo. A vista é fantástica! Mais que a cidade que se desenvolve pela colina abaixo, o imenso lago sobre o qual ondula a neblina matinal, exige que nos sentemos por alguns instantes a contemplar a paisagem.

A meio caminho (entre Edimburgo e Inverness) fica a pitoresca Pitlochry, onde se encontram as mais famosas destilarias de Whiskey de toda a Escócia, o berço do «puro malte». Não perdi muito tempo com as grandes marcas. Fui directamente à Edradour's Distillery, a mais pequena e familiar destilaria de whiskey do país. Entre alguns dos seus melhores produtos, lá estavam os envelhecidos em pipas de vinho do Porto e vinho da Madeira.



A noite aproximava-se mais rapidamente que em Abril, pelo que desta feita não parei no Castelo de Blair, cujo enquadramento no parque que o circunda merece bem a visita, e segui directo a Inverness, pela estrada pouco sinuosa que rompe as Terras Altas neste percurso.

A paisagem surpreende em particular aqueles que esperavam encontrar gigantescos desfiladeiros, enormes montanhas que se sucedem e cordilheiras cobertas de neve. Na verdade, os desfiladeiros não são assim tão grandes, tão pouco se podem chamar de montanhas, face aos pouco mais de 1000 metros de altitude que ostentam... E também não neva assim tanto.

Chamam-se Terras Altas porque ficam a Norte da Escócia. Indubitavelmente bonitas. Extensos campos amarelados e torrados pelo frio gélido, que varre os planaltos e vales; lagos semi-gelados; enormes vacas de pelo largo e ao vento, deitadas nos campos irregulares e casas perdidas no aparente inóspito.



Inverness pertence ao nosso imaginário de uma típica cidade das Terras Altas, pacata e discreta. A austeridade dos edifícios é pontualmente quebrada por pormenores mais pitorescos, como algumas igrejas em estilo gótico ou uma ponte (ainda que em ferro), sobre o rio que corre a uma velocidade vertiginosa.

O silêncio à noite só é interrompido pelas gaitas de foles, flautas e guitarras, que convidam a entrar nos bares mais genuínos que encontrei na Escócia! Os músicos improvisados intervalam as suas actuações com gargalhadas e alguns tragos de cerveja ou whiskey... Os serões são obrigatoriamente ali passados.

Inverness não é mais do que um ponto de passagem para visitar o Loch Ness, mas revela todo o seu encanto à noite.

O Loch Ness estende-se de forma esguia, ao longo de kms, entre Inverness e Fort Augustus, com uma estrutura muito semelhante aos fjors noruegueses. Podia ser um lago igual a tantos outros na Escócia... Mas não é. Este ficará eternamente ligado à lenda do «Monstro do Loch Ness».

As lendas por mais absurdas que possam ser, têm sempre um fundamento, uma mensagem, uma boa razão para existirem. Procurar uma explicação razoável ou científica para o fenómeno terá interesse para alguns, mas verdade seja dita que, para quem por ali passa, pouco interessa se existiu ou não algum monstro naquele lago. Este não é definitivamente um loch igual a tantos outros. A lenda passou a mito, eternizou-se e o lago ganhou um lugar na História.



Drumnadrochit é provavelmente o local mais agradável para observar o Loch Ness. A vista é fantástica desde as ruínas do antigo Castelo Urquhart. Um regalo para os nossos olhos. Dali zarpam também pequenos cruzeiros que nos levam de volta a Inverness.

Antes de deixar as Terras Altas, não resisti a um desvio de quase 200 km para visitar uma vez mais a [praticamente] deserta Ilha de Sky. Penso sempre se vale a pena fazer tantos kms para ver uma ilha onde não há nada em particular... mas onde tudo me parece deslumbrante.

O Castelo de Dunvegan ou o castelo sobre Loch Alsh podiam bem ser o pretexto para a visita da ilha, mas francamente insuficientes para justificar tamanha travessia... Contudo, a paisagem encerra em si todos os bons motivos para ali passar!



As cascatas semi-geladas cristalizam as encostas, enquanto o gado pasta serenamente nas arribas mais inclinadas. O casario branco é disperso, extremamente simples e despojado, com amplas janelas que permitem a entrada da pouca luz no Inverno. Pequenos portos permitem uma travessia alternativa à única ponte que liga a Ilha de Sky à «Terra Mãe» e asseguram a sobrevivência dos pescadores. Tudo o resto é paisagem...

A viagem até Glasgow garante mais algumas experiências pictóricas, tendo o seu ponto mais alto na passagem por Glen Coe, um imenso vale entre dois enormes desfiladeiros, que fazem as maravilhas dos amantes do eco-turismo e nos levam direitinhos a Loch Lomond.

Glasgow é um cidade de contrastes, até mesmo nas opiniões que dela se tem. Para alguns uma cidade industrial, de pouco interesse e desleixada, para outros uma bela surpresa. Confesso que sou dos que gostam de Glasgow. Talvez porque não tenha tendência para a comparar com Edimburgo...

A cidade desenvolve-se a partir do centro histórico, de planta ortogonal, limitado a sul pelo Rio Clyde e nas demais faces da cidade por parques e circulares. O plano inclinado de Glasgow, na direcção do rio, convida a um passeio de Norte para Sul, da Catedral [gótica] ao St. Enoch Centre, com paragem obrigatória em George Square.



No centro, as fachadas dos edifícios são essencialmente neoclássicas, intercaladas por algumas mais contemporâneas. A vida da cidade é intensa e dominada pelo comercio. É curioso o equilíbrio entre o negócio grossista e de retalho, como atesta a Buchanan Street. Os demais monumentos espalham-se um pouco por toda a cidade, de forma desalinhada e pouco concentrada.

A sul do Rio Clyde encontram-se as indústrias, os parques empresariais, o moderno centro de congressos e o Science Centre, de arquitectura vanguardista. Ao seu redor, alguns dos melhores e mais modernos hotéis da cidade.



As universidades conferem um ambiente jovem e descontraído e a dinâmica de Glasgow não se perde com o pôr-do-sol. Pelo contrário... Os bares, cafés e restaurantes enchem-se de gente e a agitação prolonga-se pela noite dentro, na Sauchiehall Street.

3 Comments:

At segunda-feira, 22 setembro, 2008, Blogger Marina said...

Amei o seu post... Estou pesquisando a escócia pq pretendo passar o Natal por lá este ano, especialmente na Ilha de Sky!
Só a música do post já me inspirou...

Obrigada!!

Marina Fanti

 
At segunda-feira, 22 setembro, 2008, Blogger Filipe Arouca said...

Obrigado Marina.

Como referi, Sky é uma ilha onde não há nada em particular... mas onde tudo me parece deslumbrante. Parece ter um enquadramento perfeito e onde o tempo é apenas uma substantivo e nada mais que isso.

 
At domingo, 22 novembro, 2009, Anonymous Anónimo said...

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